Quem não é para comer não é para trabalhar
Já apanhei amêijoas e berbigões nas praias lodosas da Ria Formosa, quando lá passo uns diazitos (são sempre poucos). Dos berbigões, fiz arroz. Das amêijoas... dei-as aos outros apanhadores. Só porque têm de ser depuradas antes. Eu tenho medo de me meter nestas comezainas por causa dos graves distúrbios digestivos que estas podem causar - diarreias e febrões.
Até há dois anos, íamos até Olhão comprá-las, em saquinhos, com rótulo identificativo, data da apanha, etc. Sempre é uma garantia. Sempre caríssimas!!!
Desde 2005, descobrimos em Quatro Águas, Tavira, um armazém aberto ao público, onde as amêijoas, ostras, camarões (dos netinhos aos bisavós) ou está vivo e a mexer ou está cozido.
Óptimo. São menos quilómetros a percorrer e poupa-se na gasolina. Não é a brincar! Uma travessinha de amêijoas "para Bulhão Pato"* contem uma dúzia e custa uma nota azul. Um quilo das amêijoas vivas, custou este Junho 17€. Vale a pena cozinha-las em casa, mesmo em férias. Então é comprar alhos, vinho branco seco, azeite e coentros, ter um tacho grande e um lume esperto... e encher a barriga. 1kg de amêijoas para duas pessoas?! É mesmo o suficiente para uma refeição.
Eu faço assim:
Passo as amêijoas por água corrente, remexendo-as bem, porque elas abrem um pouco e perdem parte da água salgada que contêm. Num tacho grande em lume forte, coloco azeite a cobrir o fundo e 2 colheres de sopa de alhos picadinhos*. Assim que começam a estralejar (só uma cozedura) meto as amêijoas lá para dentro, tapo o tacho e sacudo-o. Durante 2-3 minutos, deixo as bichinhas abrirem e largarem os restantes sucos de sabor a mar.
Enquanto isso, lavo, sacudo de água e pico os coentros, numa tábua. Tiro a tampa do tacho e mando os coentros lá para dentro, com meio copinho de vinho branco seco. Tapo de novo e agito todas as amêijoas sacudindo o tacho de novo. Tiro a tampa. Deixo fervilhar uns segundos. Que cheirinho percorre o ambiente... Marido já anda de nariz no ar "já cheiram, já cheiram!
A mesa está posta com tostas, cerveja e vinho verde branco (marcas "é o que há"). Viro as amêijoas para uma taça ou travessa (é o que houver) e mesa com elas. Sentada, no meu prato disponho algumas tostas, sirvo-me de amêijoas com uma colher grande. Do molho, que se encontra no fundo com os alhos e os coentros, retiro umas boas colheradas e cubro as tostinhas.
Só com um garfo na mão direita e as falangetas do indicador e do polegar, degusto esta iguaria.
Até deu para uma foto! Máquina em riste: clic.
Bom apetite = ).
Nota: Só por curiosidade, estas amêijoas deveriam chamar-se antes “para” ou “em honra de” Bulhão Pato, porque quem as inventou foi o João da Mata, um célebre cozinheiro do século XIX lisboeta, que as fez em homenagem a essa figura marcante da época.
* Há à venda alho picadinho congelado. O alho é um pouco indigesto, para quem gosta de o mastigar e não só do seu sabor. Curiosamente, como gelo já o "coseu" é portanto menos desagradável. E é muito mais saboroso o molho dos coentros e dos alhos sobre as tostas.
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1 comentário:
Guidinha
A minha avó dizia-me também algo parecido, quando eu em pequena ficava a olhar para o prato, sem nenhuma vontade de comer a sopa...
"quem é mole para comer é mole p'ra trabalhar", e eu ficava muito zamgada porque por acaso até nem sou nada mole p'ra trabalhar..
Boa continuação, deste tempo bom...
bjs da avó guida
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