Foto de GuidinhaPinto: Abóborinhas da Laura

Se não chover ... estamos a pensar voltar ao nosso Sítio. Não está frio. Muito pelo contrário. Por este motivo não devo poder acender o fogão a lenha, senão fazemos sauna.
Não posso fazer doce de abóbora menina e nem doce amoras silvestres :-(

As abóboras prometidas foram molestadas pelos javalis que habitam a Serra da Lousã, tal como nós.
Em Setembro, minha Prima Laura, muito triste, veio trazer-me 4 abóborinhas que não cresceram mais porque os javalis as machucaram nas guias que as prendem à terra. Se as não apanhasse, serviriam de tremoços na próxima visita dos ditos :-)) Que pena.
Como eram muito bonitinhas, ofereceu-mas. Duas delas foram trazidas para Lisboa e já consumidas em puré de sopas. As outras duas ficaram no Sítio, a enfeitar um móvel ...

Quanto às amoras, este ano eram só as silvas! A Natureza anda um pouco confundida com as mudanças de tempo e não floresce quando deve, ou pelo menos quando nós esperamos que hajam frutos. E esperava agora amoras e não as há. Talvez para o ano.

A receita do Doce de Abóbora já a dei. O Doce de Amora Silvestre é muito simples.

Enchermo-nos de alguma paciência e roupa velha. Preparamos uma cesta de preferência de vime* e um par de luvas de borracha** para quando da apanha das amoras.

Saímos à procura de silvedos. Olhamos bem para eles e colhemos as amoras bem escurinhas e maduras, mas que não se desfaçam ao toque. E vamos andando e vamos catando os silvedos. Quantos mais voluntários conseguir-mos para a apanha, mais cestas há, por conseguinte mais amoras trazemos para casa.

Não é proibido prová-las... "Gostas de amoras? Vou dizer aos teus Pais que já namoras" ... Ao chegarmos a casa, é conveniente trocarmos de roupas e lavarmos as luvas. As línguas, essas ficarão escurinhas por mais umas horitas.

Com muito cuidado, coloco cada cesto de vime dentro de um alguidar que encho com água fria. As amoras, dentro do cesto, começam a dançar, separando-se assim de algumas folhas e "piquinhos" e algum pó. Torno a retirá-las e coloco-as noutro alguidar com água fria suficiente para aqueles pelinhos que elas têem ficarem no fundo. E aí estão elas, de novo á mercê das minhas mãos. Brilhantes. Pretinhas. Com muito cuidado vou-as colocando em cima de papel absorvente. No final peso-as.
Por cada 1 quilo de amoras colocadas num tacho fundo, coloco 1 quilo de açúcar amarelo e uma casca de limão.
Deixo cozer em fogo lento, mexendo de vez em quando, para não pegar. Faz algum molho. Continuam a cozer até ter a consistência que mais aprecio. Se, por acidente, caramelizarem, não me preocupo. As pequeninas grainhas quase que tostam, o que dá do doce um sabor todo especial ao doce.
Depois é seguir os mesmos preceitos do "enfrascamento": frascos e tampas muito bem lavados, fervidos durante alguns minutos em água. Com cuidado colocam-se sobre um pano, de boca para baixo para escorrerem.
Calço a mão que segura no frasco com uma das luvas da apanha. Vou vertendo o doce nos frascos, com cuidado para não me queimar. Tapo e enrosco-os de seguida. Viro de imediato o frasco, com a tampa para baixo. Deixo arrefecer e guardo-os da luz e do calor.

Com uma fatia de pão barrada abundantemente com doce e um copo de leite ... a combinação ideal para um lanche.

* Cesta de vime por ser larga, leve, evitar manusear mais vezes o frágil fruto e poder-se meter dentro de água.
** Luvas de borracha por causa dos picos das silvas e da tinta da amora nos dedos.

«Esse Verão
Vinha meio nu
Trazia uma cesta de vime cheia de amoras
que colhera nas margens do rio
Passara a tarde toda de silvado em silvado
Na sua mão direita um pequeno arranhão
- Tão quente tão quente esse verão»

Jorge Sousa Braga: O Poeta Nu

2 comentários:

Pink disse...

Andava eu àcerca d 1 mês a perquisar receitas de doces...e eis se não quando acabo por entrar n seu blog...
Fixe!!!
Adorei! E não resisti em vir comentar....e dizer q ao menos tenho alguém q gosta d cozinha ...
Depois falo mais!
Até!

O Profeta disse...

Às vezes solta-se do céu uma estrela
Às vezes um anjo perde-se da companhia dos seus
Às vezes varre o mundo uma estranha luz
Às vezes uma criatura anda perdida de Deus


Boa semana


Doce beijo