Pratinho de arroz doce


Com este arroz faço o tradicional arroz doce e os risottos. O poema, de Gedeão, escolhi-o e dedico-o aos apanhadores de arroz de todo o mundo.

DOR DE ALMA 

Meu pratinho de arroz 
doce polvilhado de canela; 
Era bom mas acabou-se 
desde que a vida me trouxe 
outros cuidados com ela. 

Eu, infante, não sabia 
as mágoas que a vida tem. 
Ingenuamente sorria, 
me aninhava e adormecia 
no colo da minha mãe. 

Soube depois que há no mundo 
umas tantas criaturas 
que vivem num charco imundo 
arrancando arroz do fundo 
de pestilentas planuras. 

Um sol de arestas pastosas 
cobre-os de cinza e de azebre 
à flor das águas lodosas, 
eclodindo em capciosas
intermitências de febre. 

Já não tenho o teu engodo, 
Ó mãe, nem desejo tê-lo. 
Prefiro o charco e o lodo. 
Quero o sofrimento todo, 
Quero senti-lo, e vencê-lo.

De ANTÓNIO GEDEÃO, in TEATRO DO MUNDO - 1958, in POESIA COMPLETA (Ed. João Sá da Costa, 1996)

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