Actualmente é moda haver gente a recrear pratos tradicionais portugueses como se fossem uma obra prima, reduzindo até nas quantidades, utilizando a ciência e os meios laboratoriais ao dispor na confecção elaborada da nova culinária - que bonita obra de arte e que fome. É nova cozinha Gourmet. Entradas, são entradas, não refeições. E eu gosto de cozinhar, não me preocupo, de todo, com a decoração individual de pratos. Afinal, cozinho para mim e para os meus. E sou mais tasca que gourmet.
Prefiro continuar a seguir na minha casa os antigos modos da «cozinha pobre» e saudável, mediterrânica, da minha mãe e antecessoras. E apresentá-los tal e qual como há 50 anos. Em quantidade suficiente, essa a grande diferença. Faço por adquirir os produtos da época que os Mercados oferecem, não os produtos importados fora de época em outros hiper-locais. Não por regra.
É o que acontece com estas sardinhas frescas, fritas, que fazem os da «santa terrinha» desviar o olhar, mas a mim me fazem salivar, só de pensar nelas. É que não passei, felizmente, pela divisão da sardinha por 3 comensais. Mas sei que a miséria percorreu, durante décadas, a maioria das mesas portuguesas. O que a falhou em recursos, aguçou o engenho, a criatividade e a multiplicação do pouco. Por esses motivo, sempre que elaboro este tipo de refeição, presto homenagem aos antigos, aos bisavós, eu, que tenho a sorte de «ainda» poder preparar quantas sardinhas eu quiser e degustá-las por inteiro. É um petisco para mim e Marido.
É fácil. E barato, uma qualidade a não esquecer, se queremos uns cozinhados variados nos dias que correm.
Para começar, é preciso ter batatas cozidas com a pele. Também indispensável uma salada verde - alfaces ou agriões ou rúcula - o que houver na despensa.
Depois as ditas. Adquiri no Mercado de Benfica, 12 sardinhas frescas, grandes, gordas, limpas de escamas e conteúdo visceral (tripas). Em casa foram salpicadas de sal e ficaram assim cerca de 30 minutos. Após esse tempo, retirei o sal, passando-as de novo por água limpa e enxuguei-as bem em papel de cozinha.
Passei-as a seguir por farinha, sacudindo-as para largarem o excesso que iria contribuir para escurecer o azeite da fritura ... porque ele iria ser aproveitado.
Ao lume, uma frigideira com o azeite q.b. para fritar as sardinhas. Quando aqueceu, comecei a fritá-las num processo é rápido, virando-as com cuidado pela fragilidade da sua carne. As sardinhas foram sendo colocadas numa travessa funda, junto ao calor do fogão.
A seguir cortei dentes de alho grosseiramente, deitei sobre o azeite já em lume baixo, juntamente com duas folhas de louro, uma pitada de colorau e outra de sal e deixei fritar até alourarem.
Quando os alhos começaram a atingir a cor loura e o aroma apareceu, com cuidado, verti três colheres de sopa de vinagre de vinho branco no azeite e mexi o molho até fervilhar. É preciso cuidado com os salpicos. Uns segundos depois, apaguei o lume e verti-o em cima das sardinhas.
E pronto. Podem comer-se quentes, frias e de um dia para o outro.
Hoje, mesa posta, mesa farta: Pr'a mesa!
P.S. - É que antigamente, na serra, não havia frigoríficos. Nem luz artificial. Este era um processo de conservar e garantir uma refeição à família quando não havia tempo para elaborar cozinhados para além das grandes panelas de sopa de batatas, feijões e couves, que nunca faltavam nas casas das famílias que trabalhavam nos campos lá da serra e cuja jorna era de sol a sol.